Uma equipa de cientistas portugueses e britânicos descobriu uma alteração genética numa forma agressiva de cancro da mama que poderá abrir caminho a um tratamento mais eficaz da doença.
A descoberta consta de um estudo que será publicado na próxima semana pela revista britânica Oncogene, disse ontem à agência Lusa um dos seus autores, o Prof. Fernando Schmitt, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).
Os cientistas detectaram uma alteração no gene supressor tumoral BRCA1, encontrada frequentemente em algumas formas de cancro hereditário da mama, numa forma não hereditária da doença conhecida por “carcinomas do tipo basal”.
O estudo mostra que o BRCA1 é “desligado” em alguns cancros mamários do tipo basal, o que os torna semelhantes aos cancros hereditários relativamente aos seus mecanismos celulares de proliferação e de ausência de reparação de erros do ADN” - explicou o investigador.
Cerca de 10 a 15% das cerca de 4.500 mulheres diagnosticadas anualmente em Portugal com cancro da mama têm esses carcinomas de tipo basal, muitas vezes associados a maus prognósticos e com grandes probabilidades de se disseminarem para os pulmões e cérebro.Como estes tumores não apresentam receptores de estrogénio, não respondendo por isso à terapêutica hormonal (Tamoxifeno) ou ao Herceptin, “esta descoberta é fundamental para o desenvolvimento de novas formas de os tratar” - refere o estudo.
“O cancro da mama não é uma única, mas sim diferentes doenças, sendo cerca de 5% delas causadas por mutação no BRCA1 e hereditárias”, disse Fernando Schmitt, que lidera a investigação sobre esta patologia no IPATIMUP. “Nós descobrimos que o gene BRCA1 pode também estar implicado em alguns tipos não hereditários de cancro da mama” - sublinhou.
Existem actualmente novos medicamentos específicos para formas hereditárias de cancro da mama causadas por falhas nos genes BRCA1 e BRCA2, sendo que estes fármacos matam selectivamente células tumorais deficientes no gene e afectam pouco as células normais.Segundo este professor de Patologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o estudo “abre a possibilidade de que estas novas classes de drogas, específicas para mulheres com cancro da mama hereditário, possam também ser apropriadas para algumas mulheres com carcinomas da mama do tipo basal”.A potencial vantagem destas drogas é que poderão ser mais eficazes e menos tóxicas do que os tratamentos gerais actualmente utilizados - assinalou.Neste estudo, cuja parte laboratorial decorreu durante dois anos e incidiu sobre amostras retrospectivas de vários países, mas na sua maioria de Portugal, trabalharam investigadores do IPATIMUP e colegas do Breakthrough Breast Cancer Research Centre, de Londres.